terça-feira, 31 de maio de 2011

OS CONFLITOS NO CAMPO

EDITORIAL ZERO HORA 31/05/2011

Depois da execução de quatro agricultores nos últimos dias, três deles envolvidos com causas ambientalistas, o governo anunciou ontem a criação de um grupo interministerial, entre outras providências, para tentar conter a violência no norte do país. Os ministros cobraram medidas de governadores da região e anunciaram a disposição de acompanhar os resultados. Só uma reação imediata deve se mostrar capaz de evitar novas mortes no campo, em regiões da Amazônia marcadas por conflitos agrários que podem estar sendo acirrados, entre outras razões, pela aprovação do Código Florestal. Sem uma política nacional de segurança específica para o norte do país, de fato, o risco é o de a ocorrência de assassinatos se agravar, com uma extensão das tensões para outras regiões do país.

O fato de Nova Ipixuna – o município do Pará onde o assassinato de um casal de extrativistas ganhou repercussão mundial, a exemplo do ocorrido com o do líder ambientalista Chico Mendes – estar localizada no centro do chamado polígono da violência dá uma ideia do que pode ocorrer se não houver uma ação firme do poder público. Numa área equivalente à da Áustria, a região ostenta níveis de violência recordes no Brasil e no mundo. Por convicção ou por necessidade de sobrevivência, muitos extrativistas deslocados do Sul e do Sudeste, devido ao alto preço das terras, para o norte do país estão hoje com suas vidas sob ameaça. A razão, na maioria das vezes, é simplesmente o fato de se oporem à derrubada das árvores da qual tiram o sustento. Os conflitos, agravados pelo esgotamento do modelo de atividade, tende a se estender ao norte e ao oeste de Mato Grosso e a Rondônia, potencializando as consequências.

O país precisa reagir de imediato para proteger assentados e lideranças jurados de morte e para desfazer a sensação de impunidade, que estimula as execuções na Amazônia e em outras regiões conflagradas. Dos quatro mortos registrados nos últimos dias, três deles sofriam ameaças constantes e estavam marcados para morrer. Ainda assim, não conseguiram sensibilizar o poder público sobre os problemas enfrentados. A situação corre o risco de se agravar, dependendo dos rumos a serem tomados no Senado pelo Código Florestal.

Dono de uma floresta que concentra as atenções mundiais e das maiores áreas de terra agricultáveis, o país não pode continuar consentindo com tantas perdas humanas, que enlutam os brasileiros e passam a ideia de descontrole no plano externo. Daí a importância de o poder público intensificar a atuação de todos os órgãos ligados a esta área, em âmbito federal e estadual, mas sobretudo de definir uma coordenação clara sobre as competências de cada um. O que não pode ocorrer é justamente o vazio de Estado numa região estratégica, deixando a população dominada pelo medo e os agressores livres para agir.

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